Segundo o dicionário Michaelis, ética é definida como o ramo da filosofia que tem por objetivo refletir sobre a essência dos princípios, valores e problemas fundamentais da moral, tais como a finalidade e o sentido da vida humana, a natureza do bem e do mal, os fundamentos da obrigação e do dever, tendo como base as normas consideradas universalmente válidas e que norteiam o comportamento humano.
Hoje não se considera a ética como sendo unicamente humana, se tornando discutível que ocorra até mesmo entre nossos parentes não-humanos mais próximos.
Diante do fato que, nos dias de hoje, a filosofia se ocupa primordialmente com a reflexão sobre os problemas, do ser e do estar, e na avalanche de rupturas da ética e da moral do coletivo, este trabalho terá como objetivo geral: entender na pratica, as ações e reações da sociedade brasileira sob a égide da ética, quanto ao específico, será o de analisar: o estado, os grupos de poder, e o brasileiro, em grupo ou no singular.
É indiscutível analisar o Estado quando, desejamos inferir a situação ética da sociedade, cabe a esse ente personificado principalmente pela política, com todo seu peso legal e de gestão a manutenção da justiça, equidade social e do bem estar de cada Brasileiro. Todas as sociedades modernas, nomeadamente as capitalistas, mas não só, sempre contam com pirâmides de poder e riqueza, no Brasil verificamos que seja numa análise atual ou histórica os ocupantes do topo dessas pirâmides, não tem nenhum arroubo ético em relação as camadas inferiores da sociedade.
O Brasileiro enquanto coletivo ou singular, sofre toda a sorte de malefícios, se resigna, segue adiante e reclama bastante, as vezes até com humor, é um abnegado e resiliente. Mas por suas características e um pouco por sua história, não muda sua sorte, mas insiste, com expedientes reprováveis, talvez pela falta da ética que não aprendeu ou pelo instinto de sobrevivência natural, aproveitar todas as oportunidades de levar vantagem, mesmo as custas de um compatriota.
Podem-se encontrar três noções básicas de Estado na literatura da teoria política: a) como uma associação ou comunidade envolvendo uma instituição de governo; b) como uma dimensão da sociedade, abrangendo ou se opondo a outras dimensões sociais; c) como um aparato para o governo, a administração e a coerção (ISUANI, 1984, p.36).
No que tange ao Brasil, trata-se de um estado democrático de direito, onde se prima pela lei; pela observância obrigatória da legalidade em cada ato do Estado; pela separação dos poderes; pelo reconhecimento e garantia dos direitos fundamentais. De acordo com Moraes (2009), "existirá o Estado de Direito onde houver a supremacia da legalidade." A Constituição assume, portanto, valor máximo. O Estado Democrático, de forma complementar, afasta a tendência humana ao autoritarismo e à concentração de poder (MENDES,2010, p.34).
A Constituição de 1824 estabeleceu a monarquia hereditária e a separação dos poderes em quatro ramos: Poder Executivo, Poder Legislativo, Poder Judiciário e Poder Moderador (Poder atribuído ao Imperador e que regulava os demais poderes). Determinou que os deputados serviriam por quatro anos e seriam escolhidos por eleições indiretas em duas etapas. Considerava cidadãos os homens livres nascidos no Brasil ou naturalizados, independente do critério racial. Todavia, excluía escravos, índios e pobres da vida política (voto censitário). As províncias seriam governadas por presidentes nomeados pelo Imperador e a Igreja ficaria subordinada ao Estado, cujos membros seriam considerados funcionários públicos (MENDES,2010, p.47).
Torna-se quase impossível em 2020, meditar, refletir ou teorizar, qualquer princípio filosófico que seja, na indução de alguma ética, respeito ou compaixão em nossa sociedade. A idiotia e a covardia reinante no Brasil desses dias criam uma parede hermética e perfeitamente estanque a qualquer tentativa de positivismo e esperança. O pragmatismo do mal, das toneladas de carne humana inanimadas, produzidas em 2020, pela adoção de políticas de saúde estupidas, mas não inocentes, e muita desinformação, que visam a produção de milhões de reais, para alguns, em troca de muitas vidas descartáveis, pode ser um dos exemplos, mas não o único, de um dos piores períodos da história nacional.
Muito se fala em independência dos poderes, mas se analisarmos friamente, observamos que isso se presta a permitir aberrações em sentenças visivelmente politizadas no tribunais superiores, aparelhamento político do Ministério Publico servindo a projetos de poder, e apenas esporadicamente, atuando no seu verdadeiro fim constitucional de resguardar o cidadão comum (SANTANA,2016, n.p.).
Uma pesquisa da Agência Pública de Jornalismo Investigativo em São Paulo demonstrou que a quantidade de maconha apreendida com pessoas brancas é, em média, maior do que as negras (1,15kg contra 145 gramas). No entanto os negros são os mais condenados (71,35% contra 64,36% dos brancos). Isso acontece na apreensão de todos os tipos de entorpecentes. “Brancos acabam sendo classificados como usuários enquanto os negros, como traficantes” (ANDRADE,2020, n.p.).
Outro assombro nas relações do Judiciário com os brasileiros é a facilidade e a celeridade que políticos, alto empresariado e amigos do poder conseguem sentenças e habeas corpus, em poucas horas e às vezes em finais de semana ou feriados, enquanto isso, na outra ponta, um homem passou sete meses preso, e teve sua prisão revogada recentemente, por furtar uma lata de leite condensado e três pacotes de bolacha.
De acordo com o boletim de ocorrência, em outubro de 2019, o funcionário de um supermercado da cidade de Registro, no interior paulista, percebeu quando o homem saiu da loja sem pagar por um pacote de bolacha. Ao inquiri-lo, o funcionário notou que ele carregava dentro de sua jaqueta mais dois pacotes de bolacha e uma lata de leite condensado.
Em outro caso similar, em 2020, um músico negro, Luiz Justino, com 23 anos, foi preso, numa quarta-feira e acusado de participar de um assalto com uso de arma de fogo ocorrido 3 anos antes. Sua família negou fortemente o envolvimento do rapaz com esse crime, apresentando uma serie de provas e testemunhas. Mas ele só foi solto, 5 dias depois, no domingo por decisão do plantão da justiça. Na decisão que arbitrou a prisão preventiva, a juíza Fernanda Magalhães Freitas Patuzzo afirmou que a prisão era necessária para garantir a paz e a segurança da vítima, que reconheceu Luiz Carlos na delegacia, mas não esclareceu como foi feito este reconhecimento. Na época, o caso foi investigado pela Delegacia de Jurujuba em niteroi, RJ e se descobriu que não houve nenhum reconhecimento, mas como era negro, tinha grandes chances de ser culpado. De modo que percebemos que o poder que encontramos na nação, na sociedade civil e nas coalizões de classe está longe de ser o poder do conjunto dos cidadãos iguais perante a lei, neste repugnante desrespeito ao 5º artigo da Constituição federal.
Entraram para a lista dos mais ricos do país da revista "Forbes Brasil", do ano passado para cá, mais 33 brasileiros que se tornaram bilionários e agora, o ranking de bilionários brasileiros em 2020 tem 238 nomes. As fortunas desses bilionários, somadas, chegam a R$ 1,6 trilhão, alta de 33% em relação à soma do ano passado. O valor é quase igual ao PIB (Produto Interno Bruto) do Chile, que foi de R$ 1,63 trilhão (US$ 298,2 bilhões) em 2018, segundos os dados mais recentes do Banco Mundial (KOCH, REVISTA FORBES, 2020).
Nossos Bilionários detêm mais de 30% do PIB nacional e representam uma arrecadação de impostos pífia. Um bilionário paga 19% de impostos. A situação se deteriora quanto mais descemos os degraus da pirâmide, nossa fiscalidade se torna mais perversa e atinge profundamente os mais pobres. Pondo dois brasileiros, um com salário de 10 mil reais e outro com 1 mil reais vão ao supermercado, comprar uma cesta básica de 300 reais, o Brasileiro de nível salarial mais elevado, estaria desembolsando 1% de sua renda em impostos enquanto o outro, perderia nesse momento, 10% de sua renda em impostos. Essa realidade é escabrosa, desumana e desprovida de qualquer ética filosófica ou sociológica.
TABELA 1 - RANKING DOS BILIONÁRIOS BRASILEIROS DE 2020.
Posição |
Bilionário |
Origem do patrimônio |
Fortuna |
1º |
Joseph Safra |
Setor financeiro |
R$ 119,08 bi |
2º |
Jorge Paulo Lemann |
Bebidas/investimentos |
R$ 91 bi |
3º |
Eduardo Saverin |
Internet |
R$ 68,12 bi |
4º |
Marcel Herrmann Telles |
Bebidas/investimentos |
R$ 54,08 bi |
5º |
Carlos Alberto Sicupira e família |
Bebidas/investimentos |
R$ 42,64 bi |
6º |
Alexandre Behring |
Investimentos |
R$ 34,32 bi |
7º |
André Esteves |
Setor Financeiro |
R$ 24,96 bi |
8º |
Luiza Trajano |
Varejo |
R$ 24 bi |
9º |
Ilson Mateus |
Varejo |
R$ 20 bi |
10º |
Luciano Hang |
Varejo |
R$ 18,72 bi |
Fonte: Forbes Brasil,2020
Na Mídia, os cinco grupos ou seus proprietários individuais concentram mais da metade dos veículos: 9 pertencem ao Grupo Globo, 5 ao Grupo Bandeirantes, 5 à família Macedo (considerando o Grupo Record e os veículos da IURD, ambos do mesmo proprietário), 4 ao grupo de escala regional RBS e 3 ao Grupo Folha. Outros grupos aparecem na lista com dois veículos cada: Grupo Estado, Grupo Abril e Grupo Editorial Sempre Editora/Grupo SADA. Os demais grupos possuem apenas um veículo da lista. São eles: Grupo Sílvio Santos, Grupo Jovem Pan, Grupo Jaime Câmara, Diários Associados, Grupo de Comunicação Três, Grupo Almicare Dallevo & Marcelo de Carvalho, Ongoing/Ejesa, BBC – British Broadcasting Corporation, EBC – Empresa Brasil de Comunicação, Publisher Brasil, Consultoria Empiricus, Grupo Alfa, Grupo Mix de Comunicação/Grupo Objetivo, Igreja Renascer em Cristo, Igreja Adventista do Sétimo Dia, Igreja Católica/Rede Católica de Rádio e INBRAC – Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã. (BRAZIL.MOM,2020, n.p.).
Os grupos nacionais de comunicação listados no MOM-Brasil possuem também relações de afiliação com grupos regionais de mídia. Em outras palavras, a grande audiência alcançada por grande parte dos veículos, principalmente os de TV, rádio e, em menor quantidade, dos portais de notícias online, dependem dos contratos e parcerias estabelecidos com grupos regionais, que também são listados nos bancos de dados. (BRAZIL.MOM,2020, n.p.).
Outro ponto a ser destacado é que grande parte dos grupos pertencem a famílias que transmitem seus negócios – e suas concessões públicas, no caso de rádio e TV – para as gerações seguintes. Entre eles, há alguns bilionários listados pela revista Forbes (2017), como Roberto Irineu Marinho, José Roberto Marinho e João Roberto Marinho (Grupo Globo), Aloysio de Andrade Faria (Grupo Alfa) e ainda Carlos Sanchez e Lírio Parisotto (Grupo NC, que tem parceria com o Grupo RBS). Outros donos de mídia já estiveram na lista, como os irmãos Victor Civita Neto, Giancarlo Franceso Civita e Roberta Anamaria Civita (Grupo Abril), Edir Macedo (Grupo Record e IURD) e Sílvio Santos (SBT). Macedo foi o único a contestar as informações, dizendo que a revista confundiu suas propriedades pessoais com as da igreja. (BRAZIL.MOM,2020, n.p.).
Há ainda que se destacar que há políticos donos de mídia, inclusive de emissoras de rádio e TV, mesmo que a legislação brasileira proíba. Esses políticos são donos de emissoras afiliadas das redes nacionais. Nos grupos principais, o único político proprietário é Vittorio Medioli, prefeito de Betim, MG, pelo PHS. Dono dos jornais O Tempo e Super Notícia, Medioli tem como negócio principal o Grupo SADA, com empresas nos setores de transporte, armazenagem, logística, energia, entre outros. (BRAZIL.MOM,2020, n.p.).
Os interesses dos grupos impedem a existência de uma pluralidade de vozes, o embate de opiniões e a coexistência de valores e visões de mundo diferentes. A mídia brasileira de maior audiência é controlada, dirigida e editada, em sua maior parte, por uma elite econômica formada por homens brancos. (BRAZIL.MOM,2020, n.p.).
O Banco mundial considera atualmente (novembro de 2020) o Brasil como o pais mais desigual do mundo, o desastre econômico que se avizinha para o ano de 2021 é apavorante, até mesmo o agronegócio acabou de ter um baque fortíssimo com compras desnecessárias de soja e etanol dos EUA, inclusive no caso do etanol, essas compras poderão condenar o setor sucroalcooleiro à sua quase destruição. A Petrobras vendeu, a empresas privadas, a BR distribuidora, por 9 bilhões de reais e seus novos donos auferiram no 1º trimestre após a compra um lucro líquido de quase 1,5 bilhões de reais, numa negociata, cujos prejuízos, perpassam em 20 vezes os prejuízos causados pelo “petrolão”. E com surpresa observamos que nenhum destaque foi dado a isso.
Os cinco mais ricos do Brasil detêm a riqueza de cem milhões de Brasileiros e esse seleto grupo tem o poder de influir fortemente na vida nacional, e como é obvio, naquilo que a grande imprensa deve adotar como linha editorial e pauta a ser implementada em seu trabalho rotineiro. A revoltante bagunça fiscal que existe no Brasil é tamanha, que no ano de 2020, o Banco Itaú repassou, às quatro famílias detentoras de seu capital acionário, 90 bilhões de reais sem que os cofres públicos vissem um único centavo de imposto, enquanto isso um brasileiro que vive abaixo da linha da pobreza, quando consegue alguns trocados e corre para comprar alguma comida, é taxado em aproximadamente 40%.
Ou seja, os Grupos de Poder, salvo honrosas exceções, atende ao topo da pirâmide social, sem nenhum olhar para a base, aliás, mais que isso, tratando-a como um incômodo, entulho e ralé.
Refletindo, quem somos nós, os brasileiros? À primeira vista, a resposta é fácil: somos o produto da miscigenação entre os colonizadores portugueses que aqui viviam e os africanos trazidos como mão-de-obra escrava, além dos imigrantes que chegaram entre os séculos 19 e 20 – como alemães, italianos, até aí, tudo bem. Somos, enfim, um povo mestiço, genética e culturalmente, cuja diversidade, compartilha certos traços em comum (CAVALCANTE,2005, n.p.).
Não é só um estereótipo. As pessoas aqui se relacionam com mais afetividade, brasileiros conversam na rua, enquanto na Europa o silêncio predomina nas ruas, ônibus e metrô”, diz o jornalista espanhol Juan Arias, que há 7 anos vive no Brasil como correspondente do jornal El País. “Mas fiquei chocado com a burocracia kafkiana para tirar o visto de permanência após casar-me com uma brasileira. Foram mais de 6oo dias de espera, 6 quilos de documentos e a insinuação de que tudo poderia sair rapidamente se pagasse 8 mil reais. (CAVALCANTE,2005, n.p.).
Se o Brasil (e, por extensão, o brasileiro) “não é para principiantes”, como dizia tom Jobim, procuremos entender mais porque somos assim. Por que temos essa cara? O que nos move, para não esmorecer, diante do quadro Dantesco de nossa sociedade.
Brooke Unger, correspondente da revista inglesa The Economist em São Paulo é um que se diz a um só tempo encantado e estarrecido com certos traços do povo brasileiro. “Quando cheguei ao Brasil pela primeira vez, vi garis em um desfile nas praias do Rio, numa cena impensável para um americano.” Em compensação não entende a espécie de amnésia coletiva diante de casos graves de violência e impunidade. “A maioria dos brasileiros sabe mais sobre o atentado terrorista de julho, em Londres, do que sobre a chacina na Baixada Fluminense que matou 29 pessoas. (CAVALCANTE,2005, n.p.).
No século 20, livros como Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda e Formação do Brasil Contemporâneo, de Prado Júnior, tentaram responder a algumas dessas perguntas. Mas as interpretações clássicas sobre o que é o brasileiro seguem válidas hoje (CAVALCANTE,2005, n.p.).
O dia a dia do Brasileiro comum é uma verdadeira olimpíada de obstáculos, se, afortunadamente, consegue um emprego formal, ganha mal, é desrespeitado em seus direitos trabalhistas, sofre constante assédio moral, tem, via de regra, um serviço de transporte público caro e de péssima qualidade, dentre outros serviços para os quais contribui e que não lhe servem.
Se, por outro lado, não é tão afortunado e está situado na casta imediatamente inferior, dos trabalhadores brasileiros informais, ai a coisa descamba para o surreal. Apesar de serem responsáveis por uma parcela significativa de nossa economia esses trabalhadores informais vivem no sub mundo dos direitos, não tem segurança social, os salários costumeiramente são mais baixos que os seus colegas formalizados, nenhum tipo de garantia trabalhista ou securitária, onde o resultado será que nenhum tostão será direcionado a si ou a sua família, numa doença, acidente de trabalho ou em caso de morte, motivada por seu ofício.
E por último o Brasil ganhou, nos últimos anos, a categoria dos desalentados, que já desistiram de procurar oportunidades de trabalho, sobrevivendo da compaixão alheia ou de pequenas tarefas, “bicos”, para levar algum item de sobrevivência, para si e sua família todos os dias, numa agonia descomunal.
Que o brasileiro é miscigenado, é algo que se vê. Mas quanto? Em que proporção? Ainda no império, a mistura de etnias costumava horrorizar os europeus que desembarcavam aqui. Na época, influenciados pelas teorias raciais, eles viam na miscigenação uma ameaça de degeneração de todas as raças que viviam no planeta, os biólogos já descartaram o próprio conceito de raça. Os pesquisadores sabem que houve tantas variações genéticas em um grupo com traços físicos em comum que a raça perdeu seu sentido – o rastreamento da herança genética é feito por mera análise do DNA (CAVALCANTE,2005, n.p.).
No Brasil, o principal mapeamento de nossos mais de 500 anos de miscigenação comandado pelo geneticista Sérgio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais. Após pesquisar mais de 300 amostras genéticas de brasileiros de diversas regiões do país, isolando os traços praticamente inalteráveis transmitidos de pais para filho e filha durante séculos, os pesquisadores mineiros tiveram alguma certeza da matriz africana (cerca de 60%). Ou seja: a maioria tem traços europeus herdados dos antepassados masculinos e traços indígenas e africanos herdados da mãe. Isso comprova que o colonizador europeu não se fez de rogado em ter uma prole com escravas e nativas (CAVALCANTE,2005, n.p.).
A segunda surpresa está relacionada à falta de relação entre a cor da pele e a genética dos brasileiros. “A cor, no país, diz pouco sobre a origem de uma pessoa, diz Sérgio Pena. “Cerca de dois terços das amostras genéticas de pessoas de cor eram de origem europeia.” Esses dados revelam que, no Brasil, a classificação de pessoas pelo aspecto físico é inútil, já que, geneticamente, muitos brancos podem ser considerados negros… e muitos negros podem ser considerados brancos (CAVALCANTE,2005, n.p.).
Curiosamente o Brasileiro, apesar de ter a consciência de nossa mistura, que já foi cantada em verso e prosa, e corriqueiramente difundida pelas famílias, que são sabedoras da origem de seus antepassados, ora negros e índios, ora holandeses italianos, japoneses, árabes e portugueses, “solta”, sempre que pode, expressões xenófobas e racistas não se olhando no espelho. Tudo isso fruto de muitos anos de educação retrógrada, que ao longo de muitos anos injetou estereótipos nas mentes de gerações de Brasileiros. Essa atitude de levar tudo na galhofa perpetua as idiotices como a rejeição as cotas em universidades, no serviço público, no alto oficialato militar, no poder judiciário e em outros setores da vida Brasileira. Isso é uma dívida da sociedade.
O brasileiro médio não é bem educado (acadêmica e socialmente), possui dificuldades para formular compreensões textuais e do mundo que o cerca. Não tem grandes ambições. Para ele, ter um trabalho com seus direitos trabalhistas resguardados, com que ele possa auferir conforto, momentos de lazer, a possibilidade de acumular um patrimônio, como uma casa, que nem precisa ser muito grande e um veículo que sirva como meio de transporte, bem como alguns mimos do mundo consumista, como por exemplo um smartphone bacana. E poder ter sossego e alguma tranquilidade (CAVALCANTE,2005, n.p.).
O brasileiro elege para cargo político pessoas despreparadas, ficha suja e sem compromisso com o País, apenas porque tem dinheiro ou faz belas promessas, que jamais serão cumpridas. O povo paga mais que a metade de sua renda em tributos, não tem os serviços básicos que necessita e mesmo quando sua vida, e a de seu filho ou parente, está em risco como em uma pandemia ainda reverencia e ajuda os governantes. O povo aceita que qualquer um, sem conhecimento de causa, possa dar palpite nas políticas públicas. Os movimentos sectários, de ambos os extremos, por exemplo, interrompem estradas, invadem propriedades, fazem manifestações antidemocráticas, ameaçam jornalistas, soltam pequenas bombas de efeito moral em prédios públicos e dão palpite em tudo, e o governo assiste, passivamente, e nada faz (CAMÊLO,2016, n.p.).
O brasileiro passa fome, dorme na rua, morre na porta dos hospitais, não tem segurança, não tem liberdade, é penalizado de toda forma, e mesmo assim, ainda acha graça e faz piada da sua própria situação. Diante dos problemas, ao invés de se indignar e cobrar providências dos governantes, se acomoda, até se presta a reclamar, mas não toma as atitudes necessárias. Na maioria das vezes, o cidadão prefere se adaptar à nova realidade, a lutar por mudanças. É claro que esse conformismo não é a melhor opção e nem contribui para as mudanças que a sociedade precisa. O povo brasileiro precisa tratar os problemas com mais seriedade, com responsabilidade, espírito construtivo, e jamais com descaso, com faz de conta e mau uso do jeitinho (CAMÊLO,2016, n.p.)
O brasileiro precisa escolher melhor os seus representantes políticos. Não basta votar apenas para cumprir o dever cívico, é necessário escolher o melhor e fiscalizar as suas ações. Nunca na história do Brasil, se viu tanta corrupção como nos últimos tempos, é uma verdadeira epidemia. Isso é imoral, depõe contra o país e não pode continuar, sob pena do produto interno bruto, patrimônio do povo, servir apenas para o enriquecimento ilícito de poucos. O futuro do Brasil não vai chegar, como costumeiramente se fala, o futuro já chegou, está presente e bate à porta de cada um. O que falta realmente, é ser administrado com sabedoria, competência, critérios justos e honestidade. Se o povo quiser um país livre das mãos sujas dos maus brasileiros, faça a sua parte e seja um exemplo de retidão e honradez. Se assim proceder, contribuirá para a construção de um novo país, onde a ética seja o azimute que nos conduzirá ao porto seguro viva o Brasil! (CAMÊLO,2016, n.p.).
Podemos entender a ética, ou a falta dela, nos diversos atores da vida nacional em dias conturbados que a sociedade Brasileira experimenta. Pensar o que nos desencaminha e como podemos contribuir, positivamente, na busca por melhores dias. Quando penso na falta de ética em nosso país, dois pensamentos são automáticos em minha mente: O primeiro seria uma frase escrita, não me lembro mais em que veículo, por Paulo Francis, jornalista expoente, nos anos 80, da direita retrógrada Brasileira que dizia que “a Constituinte não dará certo porque tem até uma Benedita da Silva, negra, que veio do Morro”; e o segundo, a regra de ouro da filosofia para tratar a todos como queremos ser tratados, que apesar de basilar em muitas religiões pelo mundo, é pouquíssimo aplicada, em nossa história recente e menos ainda nos dias atuais, mesmo pelas classes mais sofridas e injustiçadas socialmente.
Podemos então compreender, através do pensamento Filosófico a quase ausência, em nosso momento atual, da ética nas relações pessoais e mesmo institucionais dos Brasileiros, com um olhar calejado e crítico sobre a fratura social a que estamos expostos. Em 2020 se vivenciam momentos horrorosos de desrespeito à vida de compatriotas por autoridades, que se encastelam no poder e pensam no povo como, massa de modelar, para que, dentro de suas visões de grupo, ideológicas ou corporativas, possam usufruir da riqueza do país e das benesses disponíveis no Estado.
Ao cidadão comum resta lutar pela sobrevivência, sem dignidade, sem educação, sem saúde, dentre outras garantias básicas, numa vida fosca e apartada do que em filosofia almejamos tanto: Encontrar o sentido da vida.
Porém, vamos seguindo e esperando coisas diferentes, mesmo agindo sempre do mesmo modo. Nossa sociedade na sua grande maioria conservadora, teme aquilo que altera suas tradições e sua vidinha do dia a dia, tudo assusta, portanto os problemas sociais, e sua resolução, se arrastam pelos tempos. É uma falácia acreditar que a desigualdade muda, mas podemos mitigar a desigualdade mudando nossa prática. A ética da sociedade Brasileira não é perfeita, mas com certeza é perfectível.